Infusão de camomila para
acalmar os nervos, pó de gengibre para aliviar dor de garganta, chá de boldo
para melhorar a digestão. As famosas "receitas da vovó", aquelas
passadas de geração em geração e cujos efeitos terapêuticos já foram considerados
mera crendice popular, agora são incorporadas, aos poucos, pela legislação
brasileira.
Desde a semana passada,
estão em vigor novas normas da Agência Nacional de Vigilância Sanitária
(Anvisa) para regulamentar e classificar fitoterápicos — medicamentos feitos a
partir de extratos de plantas medicinais. Além de padronizar informações para os
usuários, a principal mudança é levar em consideração conhecimento e tradição
populares como quesitos para o registro de novos produtos manipulados.
Conforme as novas normas de
regulamentação, os fitoterápicos serão divididos em duas categorias: a de
"medicamentos", que já existe desde 1967, e a nova, chamada
"produtos tradicionais". Nessa nova categoria, não são necessários
diversos testes laboratoriais padronizados, além de ensaios clínicos em seres
humanos que comprovem segurança e eficácia. Seu registro pode ser feito com
base em informações históricas, sendo necessário ter, pelo menos, 30 anos de
eficácia e segurança comprovadas na literatura para ser vendido em farmácias e
com fins terapêuticos.
Com a regulamentação,
embalagens de produtos como cápsulas feitas à base de ervas, xaropes e pomadas
precisam ter registro na Anvisa e bula detalhada, como qualquer medicamento.
— As normas ajudam os
consumidores a saber como foi registrado o produto que estão utilizando, se o
mesmo foi feito por meio de estudos clínicos padronizados ou por tempo de uso
seguro e efetivo, o que hoje não é claro. As concentrações de cada substância
também serão especificadas para cada produto, como xaropes, cápsulas, entre
outros — explica Ana Cecília Bezerra Carvalho, coordenadora da Anvisa.
Comercialização divide
opiniões
Foram as normas mais
flexíveis em outros países o que motivou a mudança da Anvisa. Conforme Ana
Cecília, os critérios para registro devem ser equiparados:
— Com a harmonização às
principais legislações internacionais, da Organização Mundial da Saúde,
Comunidade Europeia, Canadá e Austrália, espera-se que tenhamos normas mais
apropriadas para o registro de fitoterápicos.
A farmacêutica Rafaela
Marin, pesquisadora do laboratório de Farmacognosia da UFRGS e professora do
curso de Farmácia do Centro Universitário IPA, diz que a alteração é bem-vinda.
— Há alguns anos, a Anvisa
passou a exigir uma maior comprovação da eficácia dos fitoterápicos para fins
de registro, e também a fiscalizar mais o que é comercializado. O que chega
para a população como medicamento ou produto fitoterápico liberado pela agência
é comprovadamente eficaz no alívio dos sintomas para os quais são indicados.
Você não vai encontrar um fitoterápico para tratar câncer, por exemplo, mas sim
medicamentos que podem ser usados para alívio de complicações mais leves, como
aqueles que tem ação anti-inflamatória local. Benefícios como o alívio de
problemas respiratórios, proporcionados por xaropes à base de guaco, são um
exemplo — complementa.
A comercialização com fins
terapêuticos desses produtos, no entanto, ainda é cercada de cautela. Para o
médico Antonio Carlos Weston, diretor científico da Associação Médica do Rio
Grande do Sul (Amrigs), as normas da Anvisa são satisfatórias quanto à
segurança, já que só permitem a comercialização de produtos que não sejam
tóxicos. Entretanto, defende a necessidade de estudos científicos com altos
níveis de evidências para que sejam recomendados no tratamento de doenças, o
que, segundo o especialista, não ocorre com grande parte daqueles registrados
pela agência.
Independentemente do
posicionamento a favor ou contra as receitas da vovó, em um ponto médicos,
farmacêuticos e demais especialistas são unânimes: a orientação de um
profissional da saúde capacitado é fundamental.
A combinação entre sabedoria
milenar, avanços científicos e recomendação médica ainda pode ser o melhor
remédio.
Produtos Tradicionais
Fitoterápicos
Pomadas, cápsulas, xaropes e
outros produtos feitos de plantas não necessitam mais de ensaios clínicos
padronizados para ter efeito terapêutico reconhecido. São aceitos nessa categoria
dados publicados em literaturas técnico-científicas aprovadas pela Anvisa ou
pela comprovação de uso seguro e efetivo pela população pelo período mínimo de
30 anos. Veja exemplos:
Camomila
"Passa camomila que acalma", já dizia a vovó. Produtos feitos da planta têm ação anti-inflamatória na pele e podem ser indicados também para o alívio de espasmos intestinais (desconfortos).
"Passa camomila que acalma", já dizia a vovó. Produtos feitos da planta têm ação anti-inflamatória na pele e podem ser indicados também para o alívio de espasmos intestinais (desconfortos).
Calêndula
É uma plantinha milagrosa, diriam os mais velhos. A Anvisa reconhece sua ação cicatrizante e anti-inflamatória na pele. O uso via oral não é recomendado.
É uma plantinha milagrosa, diriam os mais velhos. A Anvisa reconhece sua ação cicatrizante e anti-inflamatória na pele. O uso via oral não é recomendado.
Erva-cidreira
E não é que o velho chazinho de erva-cidreira tem fundamento? Os princípios ativos das folhas, quando manipulados, têm ação carminativa (eliminação de gases), antiespasmódica e, também, em casos de ansiedade leve.
E não é que o velho chazinho de erva-cidreira tem fundamento? Os princípios ativos das folhas, quando manipulados, têm ação carminativa (eliminação de gases), antiespasmódica e, também, em casos de ansiedade leve.
Maracujá
"Tá nervoso? Toma maracujá que acalma", diz o bordão. Os produtos fabricados a partir das folhas e flores de maracujá são indicados para os casos de ansiedade leve. A nova legislação não cita o uso dos frutos.
"Tá nervoso? Toma maracujá que acalma", diz o bordão. Os produtos fabricados a partir das folhas e flores de maracujá são indicados para os casos de ansiedade leve. A nova legislação não cita o uso dos frutos.
Boldo
E quem nunca precisou de boldo-do-chile depois de um almoço de domingo? As folhas têm ação digestiva, no combate aos sintomas dos espasmos gastrointestinais.
E quem nunca precisou de boldo-do-chile depois de um almoço de domingo? As folhas têm ação digestiva, no combate aos sintomas dos espasmos gastrointestinais.
Medicamentos Fitoterápicos
Produzidos a partir de
plantas, são testados e fabricados em indústrias farmacêuticas e
comercializados somente após concessão de registro pela Anvisa. Necessitam
comprovação de eficácia e segurança realizada por meio de estudos pré-clinicos
e clínicos.
Veja exemplos:
Alho
Pode ser utilizado como coadjuvante no tratamento da hipertensão arterial leve a moderada, além de auxiliar na prevenção da aterosclerose.
Pode ser utilizado como coadjuvante no tratamento da hipertensão arterial leve a moderada, além de auxiliar na prevenção da aterosclerose.
Alcachofra
Suas folhas têm indicação para tratar os sintomas causados pela dificuldade de digestão, como dor e queimação, e para tratar hipercolesterolemia (altos níveis de colesterol LDL) leve a moderada.
Suas folhas têm indicação para tratar os sintomas causados pela dificuldade de digestão, como dor e queimação, e para tratar hipercolesterolemia (altos níveis de colesterol LDL) leve a moderada.
Gengibre
Pode ajudar a prevenir náuseas causadas pelo movimento do corpo (dentro de veículos, por exemplo), pela gravidez ou após cirurgias.
Pode ajudar a prevenir náuseas causadas pelo movimento do corpo (dentro de veículos, por exemplo), pela gravidez ou após cirurgias.
Cuidado,
é remédio
Como todos os medicamentos,
os fitoterápicos e produtos tradicionais fitoterápicos devem ser utilizados
somente com a orientação de profissional da saúde, como médicos ou
farmacêuticos. Há riscos de efeitos colaterais e de possíveis interações
medicamentosas ou alimentares que podem comprometer o sucesso do tratamento ou
até mesmo a saúde do paciente.
http://zh.clicrbs.com.br/rs/vida-e-estilo/vida/noticia/2014/05/resolucao-da-anvisa-reconhece-beneficios-de-produtos-fitoterapicos-4505677.html